quinta-feira, 29 de julho de 2010

Triturado !

Triturado e moído ! depois de fazer o caminho do Itupava na serra hj. mas foi divertido. ;)

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Travessia

Ilhabela - SP

domingo, 18 de julho de 2010

Burning Man festival

Performances, arte e...

http://www.jonathan-clark.com/photos/bm09/

http://www.burningman.com/

terça-feira, 13 de julho de 2010

E VIVA O DIA DO ROCK !!!

sábado, 10 de julho de 2010

A VOZ SEM SOM

A VOZ SEM SOM


Viegas Fernandes da Costa
Conto publicado na antologia "CONTO POESIA"
Florianópolis, p. 108-113)

I


Em meio à névoa, uma imagem, impressionista, dissolúvel nos gases que a envolvem; uma imagem de mulher. Dos delicados contornos percebo apenas as tênues formas, que se movem, aproximam-se, afastam-se, iludem meu olhar. Talvez uma divindade, talvez um delírio, mas certamente um corpo sem face.

Mergulhado no líquido viscoso da transpiração, desperto na polução noturna. A imagem some. Um sonho! Levanto-me: o banho, a água morna, a toalha felpuda, e sequer uma lembrança — um corpo sem rosto!

II


Convulsões impelem meu corpo contra a cama, e o corpo da mulher pulsa estranhamente no infinito do espaço do inconsciente. Mas o brilho muito intenso faz com que suma a névoa, o pulsar, a imagem. Meu corpo jaz apenas estático sobre o colchão.

O caótico quadro embrulhado em gases e angústias é agora substituído por uma arcádia. Vejo um enorme gramado plano, verde, e um profundo céu azul, sem nuvens, e só! Ao longe percebo um homem que caminha, lento, sonambúlico, sobre o verde prado. Vislumbro-o de costas, mas reconheço-me em sua silhueta. Caminha em direção ao ponto em que se encontram o solo e o céu, e onde desaparece toda e qualquer possibilidade de referência. É como se procurasse o suicídio no imenso abismo da paz.

Minha intenção é gritar-lhe, informá-lo da minha vontade de ficar, de sentir ainda por muitos anos a umidade da grama verde que se estende sob seus (meus) pés, mas não consigo. Tudo o que possuo é o terceiro olho que observa o espaço da subjetividade mais profunda, o espaço totalmente desprovido das noções de tempo, o espaço desprovido da própria noção de espaço. Tudo o que vislumbro é possível reduzir à noção de infinitude. Estou um mero espectador de mim mesmo inatingível.

E continua caminhando, a grama gira sob seus (meus) pés e parece não terminar mais. A cada passo uma cor transpassa o céu azul, e a cada cor que passa no céu, levanta a cabeça. Mas não pára, seu (meu) destino é o ponto no infinito, na ausência de matéria, forma e cor. Seu (meu) destino é o abismo do vazio, onde certamente encontrará o tombo eterno. Mas não pára, e não o alcança!

Do vazio sobe agora a voz sem som. É estranho, naturalmente, mas ele (eu) pode escutá-la. Uma voz sem som que fala à mente do eu que vaga no espaço da minha própria mente. Uma voz, quase um apelo, uma presença naquele imenso vazio; e a segue, sim, segue-a!

Posso perceber agora que o abismo não existe, que da grama caminha sobre o nada. Não caiu, não cai, apenas vai! E segue a voz sem som. O que eu via, um corpo, já não mais existe, faz parte da imatéria, e já não vejo mais, apenas sinto, sinto o eu que vai, não mais caminha, e a voz sem som.

Abro os olhos, calmo. Observo o teto, branco, e o dia lá fora amanhece. Vago, leve, ponho-me de pé e rumo para o banho: água, sabonete e a toalha felpuda. De nada me lembro, sinto apenas um corpo vazio, a falta de algo que nunca tive.

III


Agora nada vejo, nada escuto, pareço estar no interior de uma hermética bolha de sabão que flutua sobre o nada. O ser (eu) que via, que acompanhava, alheio a minha vontade, vivo! Pertenço agora a sua natureza: sou eu dentro de mim mesmo. Difícil explicar, mas faço agora parte daquilo que eu via, e sou eu em toda a minha essência: sem corpo, sem voz, sem vontade, apenas eu. A essência mais profunda: ser!

E novamente a voz sem som me chama, nada penso, apenas sinto. E me desloco no espaço inexistente e sem sentido. A voz ... a voz... a voz... Sinto-a se aproximando, mas pareço mudar de direção, alheiamente a minha vontade — não tenho vontades! Mas a voz sem som continua me chamando, insistentemente clama por minha presença. No plano da total inexistência, porém da profunda essência, tudo o que percebo sou eu e a voz.

Acordo, abro os olhos mas não me mexo. Pareço estar em estado de êxtase. Todo o meu corpo leve. Lentamente me descubro, esfrego meus olhos, verifico as horas no relógio e me certifico que estou de volta, posso medir o tempo e o espaço e compreendo que preciso sair para trabalhar. O banho, a água que me massageia, a toalha felpuda, mas algo me falta, tenho certeza, mas não sei o que e.

IV


A voz sem som, a voz sem nome, sem palavras. Tão somente uma voz. E eu em minha maior profundidade modifico o meu rumo e vou ao encontro do que me chama. E encontro-a.

Acordo delirando, febril, o guarda-roupa parece se inclinar sobre mim. É manhã e o despertador toca incessantemente. Desligo-o e me deparo com o rosto do vizinho na janela. Diz-me que estava preocupado, acordara durante a madrugada com o som dos meus gritos, e agora, com o barulho irritante do despertador, pensou que eu estivesse morto e veio verificar.

Tranqüilizo-o e me convenço da necessidade de colocar cortinas nas janelas.

Dispo-me, banho, água morna, sabonete, toalha felpuda... Algo não está completo, e sou eu. Falta-me alguma coisa, mas não consigo descobrir o que é. Talvez seja... o telefone! O telefone está tocando, preciso atender.

- Sim?
... um engano, mas juro que conheço aquele suspiro!

V


Uma explosão! - foi tudo o que vi e senti. Levanto agora a minha cabeça, meu corpo está de volta, e distingo no alto as formas de uma mulher (ela novamente), mas não encontro seu rosto. O rosto meu Deus! E no momento em que clamo por sua face, esvai-se num suspiro.

... no banco do táxi, desperto. O motorista me olha desconfiado. Conta-me que estive sonhando. Enquanto fala, sinto duas mãos me acariciando a nuca e o pescoço. Viro-me e encontro apenas um banco vazio. Começo a transpirar...

... o corpo me envolve em sua essência, começo a dissipar-me. Sussurros sem som me comunicam da junção dos espíritos. É um corpo de mulher, é um espírito de mulher, mas sem rosto...

... no hospital, a roupa branca me veste, o piso liso e limpo reflete minha fisionomia anêmica, e a enfermeira me observa assustada.

- O taxista te trouxe, estavas delirando, com febre.

- Obrigado!

- O doutor te consultou enquanto deliravas, estavas gritando por um rosto, mas disse que tudo o que tu tens é estafa. Disse que assim que quiseres podes ir para casa. Se houver a necessidade ele te dá um atestado e ficas de repouso por alguns dias.

VI


A névoa abaixa. Vejo agora um rosto e um corpo. Mas agora que ela se materializa, agora que distingo novamente as formas, não posso tocá-la, pois distancia-se com os braços estendidos na minha direção, puxada por uma força distante. Sua voz sem som é agora perfeitamente audível, posso compreender o que diz: jamais ... jamais ... jamais...

Acordo em casa, deitado no sofá, a campainha tocando. Levanto-me e rumo em direção à porta. Uma sensação estranha cruza meu corpo. Ainda sinto falta de algo, não sei o que é, mas sei que vou descobrir. E só abrir a porta... e a campainha continua tocando.

Ponho a minha mão na maçaneta fria de metal, giro-a, a porta se abre ela e está aqui: a proprietária do corpo sem rosto, da voz sem som!

- Eu sabia que ia te encontrar — diz e me abraça.

Sinto em seu peito o seu coração, que pulsa, está viva! Uma incontrolável vontade de chorar toma conta de mim. Toco seus ombros, levanto seu rosto, como é lindo! Suas mãos sobem aos meus lábios, toca-os com os dedos delicados e me proíbe de falar. Aproxima sua boca da minha, beija-me, e neste singelo ato me permite conhecer todo o seu ser, a voz dos meus sonhos.

VII


Acordo assustado. A cama molhada pelo suor de muitas noites de sono e sonhos. Está vazia! O teto, a luz que entra pelo vidro da janela sem cortina. Sinto que me falta algo, algo com o qual sonhei, mas não sei o que é, não me lembro daquilo que sonhei.

Levanto, é tarde, tomo um banho, água quente, toalha felpuda. Fecho os olhos; quando os abro ela está lá, olha para mim, e some.

Fim

Nouvelle Vague - killing moon




Under blue moon I saw you
So soon youll take me
Up in your arms
Too late to beg you or cancel it
Though I know it must be the killing time
Unwillingly mine
Fate
Up against your will
Through the sick and thin
He will wait until
You give yourself to him
In starlight nights I saw you
So cruelly you kissed me
Your lips a magic world
Your sky all hung with jewels
The killing moon
Will come too soon
Fate
Up against your will
Through the sick and thin
He will wait until
You give yourself to him
Fate
Up against your will
Through the sick and thin
He will wait until
You give yourself to him